ALTO IMPÉRIO

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Os dados conhecidos, os achados e a construção permitem afirmar que a ocupação da pequena plataforma onde foi implantado o sítio do Mileu parece remontar a finais da primeira metade do século I d.C., período de construção do complexo termal, e que o sítio teria alguma relevância na rede de povoamento
da Beira Interior no Alto-Império.

O edifício das termas foi escavado nos anos 50 do século XX, encontrando-se materiais arqueológicos desse período com elevada uniformidade de fabrico, na sua maioria inseridos no grupo de cerâmica cinzenta polida de tradição indígena (cuja produção não ultrapassa os meados do século I d.C.).

Esta fase terá tido uma curta duração, a avaliar pelas profundas alterações, reparações e construções, entre elas a desativação das estruturas de período anterior, construindo-se um conjunto mais amplo, com novos espaços arquitetónicos. Estas alterações – que denominamos Fase II – ocorreram em finais da segunda metade do século I d.C. ou inícios da centúria seguinte, com a monumentalização do sítio do Mileu, não só com a construção do Edifício B, o espaço ajardinado e a colunata, mas também a reorganização do complexo termal, servido por uma extensa rede de condutas de drenagem de águas.

Taça Drag. 27, terra sigillata hispânica.
Coleção Museu da Guarda
-Pulseira com representação de cabeças de serpente.
Coleção Museu da Guarda

Esta Fase, de plena utilização do conjunto arquitetónico, parece marcado por profundas alterações ao nível da plena participação do Mileu nas rotas comerciais terrestres. Destacava-se a elevada quantidade de materiais importados, entre os quais os exemplares de terra sigillata hispânica, num período em que os ateliers de La Rioja (Norte da Península Ibérica) já detinham claramente o monopólio
da comercialização destes produtos na Península Ibérica.

Os materiais arqueológicos recolhidos nas escavações arqueológicas permitem
concluir que o sítio terá tido um perfil de consumo típico dos núcleos urbanos alto-imperiais do interior da Lusitânia.

À semelhança de toda a Beira Interior, o número de ânforas é muito reduzido, correspondendo os materiais importados essencialmente a exemplares de terra sigillata, aqui recolhidos em número elevado. Seriam certamente materiais de retorno de um fluxo comercial possivelmente baseado na exportação de metais, nos quais a região do Planalto Guarda-Sabugal seria rica, sobretudo cobre e estanho.

-Bilha, em cerâmica comum. Coleção Museu da Guarda.

Estas redes de trocas comerciais com regiões longínquas da Península Ibérica partiriam de Mérida, enquanto centro distribuidor de terra sigillata de La Rioja, lucernas de Mérida e da Bética, almofarizes da Bética e vidros. A partir de Mérida, os produtos seriam distribuídos por toda a Província, apoiando-se nos centros urbanos (Fabião, 1994: 238), onde incluímos o Mileu, para posteriormente serem distribuídos e comercializados pela região envolvente

Os materiais encontrados permitem compreender o grau de aculturação dos seus habitantes, o seu quotidiano e os gostos desta comunidade. Assim, é importante referir os elementos de adorno, como as contas de colar, as fíbulas, os anéis e as seis pedras de anel, quatro das quais com representação de iconografia religiosa (Perestrelo, Pereira, 2013), denunciando que a comunidade que frequentava o complexo termal se encontrava imbuída nos conceitos do otium cum dignitates e na cultura romana.

-Alfinete de Cabelo. Coleção Museu da Guarda
-Taça Drag. 24/25, terra sigillata hispânica. Coleção Museu da Guarda

O edifício das Termas do Mileu filia-se plenamente na arquitetura romana monumental, considerando a tipologia dos edifícios e o seu desenho arquitetónico global, marcado pela regularidade e pela ortogonalidade, princípios associados à arquitetura clássica.

Tal como no Mileu, os conjuntos termais parecem evidenciar um investimento na construção destes edifícios, seguindo os preceitos arquitetónicos estipulados, mais ou menos invariáveis, valorizados sempre que possível pelo uso de materiais luxuosos, como os revestimentos em placas de mármore, estuques e pinturas, permitindo a criação de ambientes de calor e frio, luz e de penumbra, propiciando contrastes e experiências sensoriais únicos, capazes de criar o deslumbramento dos seus utilizadores.

Supõe-se que as paredes seriam revestidas a estuque, com pinturas, semelhantes aos fragmentos detetados no interior do tanque identificado na área de pátio.
Os frisos junto às coberturas poderiam ter sido construídos em mármore e em estuque (foram encontrados também diversos fragmentos).

A cobertura, assente sobre uma estrutura
de madeira, seria um telhado constituído por tegulae e imbrices, algumas com marcas de oficina.

Pontualmente existiriam tegulae com óculo (como parece atestado pelos pequenos fragmentos recuperados nas escavações), que permitiam regular a temperatura do interior dos compartimentos, a renovação de ar e a entrada de iluminação.

A cobertura do alueus e talvez a da sala de planta circular poderiam ter tido uma estrutura em abóbada, construída em opus caementicium, de que restam imponentes indícios na fachada virada a Sul.

O edifício das Termas do Mileu filia-se plenamente na arquitetura romana monumental, considerando a tipologia dos edifícios e o seu desenho arquitetónico global, marcado pela regularidade e pela ortogonalidade, princípios associados à arquitetura clássica.

Tal como no Mileu, os conjuntos termais parecem evidenciar um investimento na construção destes edifícios, seguindo os preceitos arquitetónicos estipulados, mais ou menos invariáveis, valorizados sempre que possível pelo uso de materiais luxuosos, como os revestimentos em placas de mármore, estuques e pinturas, permitindo a criação de ambientes de calor e frio, luz e de penumbra, propiciando contrastes e experiências sensoriais únicos, capazes de criar o deslumbramento dos seus utilizadores.

Supõe-se que as paredes seriam revestidas a estuque, com pinturas, semelhantes aos fragmentos detetados no interior do tanque identificado na área de pátio.
Os frisos junto às coberturas poderiam ter sido construídos em mármore e em estuque (foram encontrados também diversos fragmentos).

A cobertura, assente sobre uma estrutura de madeira, seria um telhado constituído por tegulae e imbrices, algumas com marcas de oficina.

Pontualmente existiriam tegulae com óculo (como parece atestado pelos pequenos fragmentos recuperados nas escavações), que permitiam regular a temperatura do interior dos compartimentos, a renovação de ar e a entrada de iluminação.

A cobertura do alueus e talvez a da sala de planta circular poderiam ter tido uma estrutura em abóbada, construída em opus caementicium, de que restam imponentes indícios na fachada virada a Sul.

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A distribuição espacial, o seu desenho arquitetónico, a sequência dos compartimentos, os materiais e as tecnologias utilizadas no complexo termal do Mileu são próprios de um sistema construtivo muito racional, cuidado e mesmo monumental.

Este conjunto arquitetónico, implantado nos confins ocidentais do Império Romano, um espaço de algum modo afastado dos grandes polos construtivos e mais dinâmicos da Lusitânia, possui ainda um maior significado histórico se tivermos em conta o seu afastamento da capital de Província, Augusta Emerita (Mérida).

-Reconstituição do interior do edifício das termas romanas do Mileu